Estou morando em Londres há quase dois anos e, somente agora, acho que estou pegando o jeito das estações nesta cidade.

De modo que, se você me perguntasse, eu concordo com o senso comum de que é definitivamente  o verão (mais especificamente, entre a segunda metade de junho e a primeira metade de setembro), com temperaturas mais quentes, dias mais longos e muita coisa bacana acontecendo pela cidade, a melhor época para chegar em terras da Rainha.

Mas em seguida, eu também diria que a segunda melhor época é a primavera, especialmente nos meses de abril e maio. E diria também que, até o ano passado, eu tinha a primavera e o outono empatados na minha cabeça, já que o outono daqui também é lindíssimo, com seu friozinho delicioso (e ainda suportável) e com todas as árvores em lindos tons quentes de amarelo e vermelho, deixando a cidade toda incandescente.

É, eu adoro o outono daqui. Não por acaso, foi a estação em que eu me casei.?

Mas foi nesse ano, minha segunda primavera aqui – que consegui “desempatar a questão” na minha cabeça. E explico alguns dos motivos porque acho que marcar uma viagem para Londres entre abril e maio é uma ótima pedida. 🙂

1. Tudo é mais florido e alegre

 

Isso não é brincadeira. Como no Brasil a gente tem tempo bom e ensolarado com frequência (bem, pelo menos na maior parte do Brasil. Amigos meus de Curitiba iriam discordar dessa afirmação! 😛 ), isso acaba sendo algo natural para a gente – ou, como o inglês fala, “we take it for granted”. Mas aqui, os dias ensolarados e quentes acontecem (bem mais do que a gente imagina, nós que sempre tivemos aquela imagem de uma Londres cinza e chuvosa), mas com menos frequência. Então, para o inglês – e quem quer que more aqui – basta chegar março e ver os primeiros brotos de primavera chegar que o astral da cidade já muda, as pessoas ficam bem mais animadas. Isso aumenta mais mais em abril, quando as árvores já começam a florir para todos os cantos, os dias ficam mais compridos (e mais quentes, ainda que isso ainda signique “frio” para a maioria dos brasileiros) e começam a surgir brotos de narcisos em todo o canto – segundo os ingleses, essas são as primeiras flores a nascer, anunciando a primavera.

E eu já fico toda animada quando começo a ver os pubs pendurando cestinhas de flores do lado de fora – depois de meses de um inverno tão “pelado” de folhas e flores, é bom ver um pouco de cor em tudo quanto é lugar. 🙂

Dica de onde ir:

Se você vem a Londres na segunda metade de maio e curte ver lindos jardins floridos, programe uma visita até o Kew Gardens, praticamente o Jardim Botânico inglês. O passeio vai durar metade de um dia para ver algumas das partes principais (ou o dia inteiro, se você tiver disposição de ver tudo), mas é na primavera que você começa a ver os belíssimos jardins se colorirem de novo. É uma das atrações pagas de Londres (você pode comprar o ingresso aqui, sem fila), mas que vale a pena – eu fui no outono, com a paisagem toda amarelada, mas minha prima foi na primavera e adorou. Dica: dá até para combinar o passeio com uma visita ao Kew Palace, onde morava o Rei George III, o rei louco (ingressos para o Kew Palace não estão incluídos dentro do ingresso ao Kew Gardens e precisam ser comprados separadamente. Você pode comprá-los aqui).

 

Kew Gardens no final do inverno. Crédito da foto: Flickr de Herry Lawford (licença Creative Commons).

 

Mas vale lembrar que o Kew Gardens é mais afastado. Se você quiser ver um montão de flores bem de pertinho, corra para os jardins do Regent’s Park – cuja entrada, aliás, é de graça. Se o dia estiver bom, fica a dica de fazer um piquenique por lá. 🙂

2. Os pubs abrem os seus “beer gardens”

Outra coisa deliciosa: Pub inglês é o equivalente ao nosso boteco brasileiro, e é geralmente onde acontecem, começam e terminam qualquer evento em Londres (ou no Reino Unido… Eu diria que os pubs estão super inseridos na cultura britânica de forma geral). Por isso, eles são versáteis: tem um interior um pouco escuro e acolhedor para dar conta do inverno – mas basta que os dias comecem a esquentar que eles abrem os seus “secret gardens”, ou beer gardens. ?

Mesmo que você não seja da turma da cerveja – como eu – descobrir estes jardins secretos é uma delícia. 🙂

Nem sempre eles são assim secretos. Alguns são no alto, em que o jardim tem uma bela vista para a cidade.

Já outros são mais escondidos mesmo – a gente tem que seguir as placas. Mas há cantinhos bem bacanas!

Dicas de onde ir (ou “meus beer gardens preferidos são”):

Canonbury Tavern (Highbury & Islington): é meio carinho, mas tem um super jardim e era frequentado por George Orwell (o cara que escreveu “1984” e “A revolução dos Bichos”), que aliás, morava ali pertinho. Costuma lotar no verão, e tem até um espaço de churrasco (bem, entenda-se o churrasco inglês, que é linguiças e hambúrgueres. Ainda assim, delicioso).

The Junction Tavern (Kentish Town – o metrô mais perto é a estação de Tufnell Park, na linha preta): fica na zona 2, o que significa que não é nada turístico, e sim um pub de locais. Mas por isso mesmo é bacana, e o jardim dele é uma fofura, tanto no verão (flores) quanto no inverno (lareiras). Foi eleito pela TimeOut como um dos melhores pubs do Norte de Londres. Confesso que venho aqui com uma certa frequencia – o fato do meu marido trabalhar aqui perto e ser “o point” pós trabalho pode ter alguma coisa a ver com isso. ?

The Garden Gate (pertinho da estação do Overground de Hampstead Heath): Fica bem na esquininha de Hamsptead Heath, um parque enorme, lindo e delícia daqui de Londres. O bairro é igualmente charmoso (leia-se “caro”, também) mas felizmente o pub tem preços até bem razoáveis, considerando a localização. O beer garden é uma gracinha, grandinho e gostoso, e eles fazem churrasco ao ar livre em dias quentes de verão (não espere o nosso churrasco, mas sim linguiças e hambúrgueres grelhados na chapa na hora – gostosinhos, também). Fica perto da estação de Overground de Hampstead Heath, e você pode combinar com uma caminhada pelo parque antes ou depois do beer garden: típico caso em que a ordem dos fatores não vai afetar a delícia que vai ser o seu dia.

PS: Desculpem-me por estar escolhendo apenas pubs na zona norte de Londres e não tão centrais, mas isso não é mera coincidência. São de fato os pubs que eu mais frequento por serem perto de onde moro, mas também por terem uma vibe bem mais gostosa, de bar e conversa mesmo (muitos pubs no centrão de Londres ficam muito cheios com a galera que sai do trabalho para beber, ou cheios de turistas, ou hypados de tão forma que meio que perdem aquele gostinho original. Esses que eu recomendei são, de certa forma, meus preferidos porque mantém esse ar “local”).

3. É quando é possível ver vários bichinhos-bebês

(bem legal para quem vem com crianças)

Lembra do filme do Bambi? Em que toda vez que chegava a primavera era quando nascia um monte de filhotes (ou, quando estavam adultos, era quando “o amor está no ar”)?

Pois é. Esse efeito acontece mesmo na vida real. <3

E eu falo sério. Basta começar março que a gente escuta uma passarinhada revoando por todo o canto, gatos brigando (ou não) pela vizinhança, e esquilinhos correndo soltos atrás uns dos outros, numa coisa meio amor & violência, tudo ao mesmo tempo.

Como as estações do ano são bem marcadas, ao morar aqui você passa a notar essas pequenas mudanças. Por isso que quem vem nessa época pode começar a reparar em alguns detalhes: por exemplo, no início de março/ abril, nos parques, vocês vão notar vários patos, cisnes e outras aves montando seus ninhos (muitos à beira dos rios, que são lugares em geral protegidos de predadores, como raposas).

E quem vai no final de maio/junho já deve conseguir ver patinhos em todo canto! 🙂

Mas se o seu negócio for realmente uma vibe “Bambi”, aproveite: os meses de abril e maio são também os melhores para se visitar o Richmond Park, uma reserva nacional onde dois tipos de veados (inclusive o da espécie do Bambi, no filme) vivem. E nestes meses é quando nascem os filhotes!

Tá, essa foto mostra os “Bambi” adultos, e foi tirada no outono. Mas quando fui na primavera, era difcil (e perigoso) se aproximar dos bandos onde estavam os filhotes – imediatamente os maiores se aproximavam para proteger. Então, por motivos de “não quero parar no hospital”, fico devendo a foto dos bebês aqui!

Dica de onde ir:

Qualquer um dos parques centrais de Londres: basicamente, qualquer parque que você for visitar em Londres será possível avistar patinhos, ninhos e a fauna local – mas os melhores locais para ver são o Hyde Park (especialmente perto da Serpentine), Regent’s Park, St James Park (perto do Buckingham Palace)e, mais para o norte, o Hampstead Heath.

 

Richmond Park: criado há seculos atrás como uma reserva para caça de veados utilizada exclusivamente pela corte, o parque deixou o passado sangrento de caça para trás e hoje é o endereço de duas espécies de veados que vivem por lá. Vale a visita porque o parque é lindo, os veados são lindos, o bairro de Richmond é uma fofura e, bem, é de graça. Em caso de dúvidas, dá uma olhada no post que eu escrevi de lá.

London Zoo: Pelos mesmos motivos que o Bambi, a primavera é quando alguns dos animais do zoo procriam, e você pode acabar tendo a sorte de ver pequenos macaquinhos, pinguinzinhos e outros bichinhos bebês por lá – fofura total. Vantagem: o London Zoo organiza às sextas um horário de abertura mais tarde, quando é possível ver melhor os animais noturnos (mas, infelizmente, quem vai nesse horário mais tarde pode perder os filhotes, que geralmente vão dormir).

Quando eu fui no London Zoo, a mamãe gorila tinha tido um bebezinho, mas não consegui tirar foto dele porque eles “tinham ido dormir”. Então para compensar deixo a foto desse tigre brabo e bonitão que eu tirei, tá?

4. Começam os eventos ao ar livre

Ah, isso sim é uma delícia!

Explico: apesar de Londres ser considerada uma cidade cara em termos de custo de hospedagem, transporte e comida, ela é super em conta porque oferece muita coisa de graça!

A começar pelos museus, por exemplo. Enquanto que em Paris você tem que desembolsar alguns euros para ver um legítimo Van Gogh, em Londres você não paga nadinha (dica de leitura: melhores dias e horários para visitar os museus de Londres).

Mas na primavera, e com o tempo melhorando, começa a temporada de abertura de rooftops, lounges e shows ao ar livre – e a maioria tem entrada gratuita, você paga só o que consumir e/ou as atrações em si.

O mais famoso é o Udderbelly (conhecido, entre os íntimos, como a “vaca roxa”). É, literalmente, uma vaca roxa inflável enorme, que abriga um show de humor lá dentro. O show de humor é pago e você não precisa ir (o humor inglês é bastante peculiar, mas é difícil de entender porque muitas das piadas fazem referências locais e, bem, tem a questão do sotaque, também), mas a área externa é um lounge bem gostoso com cadeiras, mesas, aquecedores (para os dias de frio nada raros, mesmo às portas do verão) e barzinhos de comida e bebida.

Vale dizer: é o point da azaração! 🙂

É também quando os parques estão lotados de gente tomando sol, fazendo piquenique. É possível até ir a um show de forró num parque inglês, ao ar livre!

Mas nem tem só isso: Shoreditch e Hackney são cheias dos eventinhos gostosos de se visitar (confira a TimeOut London – lá eles sempre colocam detalhes de onde acontecem esses eventinhos).

E tem o Pop Brixton também, no sul de Londres – uma área aberta onde locais se reúnem para beber, ouvir música e assistir os jogos do torneio de Wimbledon ou o que quer que esteja passando de interessante. Fora, ainda, as feiras ao ar livre, como a Brick Lane, Portobello Road e Broadway Market (essa última, aliás, uma feira de fazendeiros locais – deliciosa!).

Delícia, né? E o verão ainda nem chegou… ?

Se bem que deve ser isso o que faz a primavera londrina ser tão boa: é ter sempre a sensação de que ainda tem muita coisa boa pela frente! 🙂

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Museus de Londres: qual o melhor horário para visitar e o que vale a pena em cada um deles!

Do baratinho ao classudão: dicas de onde comer (bem) em Londres

Onde se hospedar em Londres: um hotel para cada bolso (e dicas compiladas dos arredores)

Visita aos estúdios Harry Potter em Londres: uma viagem mágica a Hogwarts

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Clarissa Donda
Sou jornalista e escritora. Eu criei esse blog como um hobby: a idéia era escrever sobre minhas viagens para não morrer de tédio durante a recuperação de um acidente de carro. Acabou que tanto o blog quanto as viagens mudaram a minha vida (várias vezes, aliás). Por isso, hoje eu escrevo para ajudar outras pessoas a encontrarem as viagens que vão inspirar elas também.

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