A gente pode tentar mudar de assunto, mas não adianta: com Dia dos Namorados tão pertinho, o amor está no ar. E como não falar dele?
Por isso, interrompemos nossa programação normal de posts (mas voltamos a ela semana que vem!), para trazer para vocês a série Travel Love Stories!
Serão 4 histórias, contadas por quatro pessoas diferentes, que estavam viajando felizes da vida e, de repente, cruzaram com um desconhecido que, de certa forma, mudou o rumo das coisas e… bem, para saber o resto, você vai ter que acompanhar! 🙂
Será publicada uma história por dia, de hoje até quinta feira (dia de Santo Antônio Casamenteiro)! Todas nessa vibe de viagens e de paixões – duas das melhores coisas da vida, aliás! 🙂
E convidamos vocês a participar também! Tem uma história de paixão avassaladora, romântica, inusitada, que aconteceu numa viagem? Conta para a gente e “share the love”! 🙂
Hoje, inauguramos a primeira “Travel Love Story” da semana. E quem conta é, bem… eu.
Puxa uma cadeira e… vamos lá!
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“Era uma vez no México…”
O primeiro encontro:
Encontro romântico, para ser romântico mesmo, tem já o cenário montado: noite, flores, drinques e luz de velas.
Sendo assim, eu não tenho do que reclamar: foi exatamente em meio a esses elementos que nos conhecemos. E duvido que haja um lugar com mais velas, flores e música do que onde nós estávamos.
Restaurante? Não, na verdade foi em um cemitério.
Mórbida, eu? Nem um pouco. Na verdade, na ocasião em questão eu estava em Oaxaca, interior do México, no dia 31 de outubro de 2012, atraída ali para ver de perto e registrar as celebrações do Dia dos Mortos. Como a região de Oaxaca possui a maior concentração da população com origem indígena do país, muito das tradições primitivas de celebração do Dia dos Mortos é feita por lá, e eu estava exatamente a trabalho, para registrar tudo e escrever depois (e para quem quiser saber mais sobre a festa, é só ler este post e este aqui – vale avisar que a festa não tem nada de mórbido, muito pelo contrário).
E no dia 31 de outubro, quando as celebrações acontecem de verdade, eu me juntei ao tour organizado pelo hostel em que estava (o Cielo Rojo, que recomendo muitíssimo) para percorrer três celebrações diferentes.
Só que em Oaxaca a boa da noite acontece nos cemitérios. Bora então.
Equipada com câmera e um casaco poderoso (faz frio à noite), eu aguardava o guia distribuir o kit-lanche: um pão, chocolate, vela e uma bebida chamada mezcal (que vem da mesma linha que a tequila: com um sabor que entra forte e desce “caliente”).
Delícia, né? Mas o kit era para os mortos. Para a gente, só a bebida – forte o bastante para levantar qualquer defunto.
– Então, vocês devem escolher um túmulo em que não esteja sendo velado pela sua família, e fazer ali a sua oferenda ao morto, deixando o chocolate, o pão e acendendo uma vela – explicou o guia.
Cheguei a me perguntar se eu poderia comer o pão e o chocolate escondido, porque tava frio e eu tava com fome, mas achei melhor não – não saberia despistar uma alma penada e, bem, eu já estava a caminho do cemitério, né? De três cemitérios, aliás. Não ia dar certo brincar com essas coisas.
– Tá, então, é só a gente ir andando por entre os túmulos, escolhendo livremente? – pergunto.
– Sim, você só tem que ter cuidado com os mortos que podem puxar você pelo pé para o túmulo deles – alguém respondeu.
Era ele.
“Ah, tá, legal”. Risadinha sem graça. Entro na van. Ele também.
Ele, achando que eu era francesa. Eu, achando que ele era um chato.
A gente chega no primeiro cemitério. Após as explicações gerais, o grupo é convidado a caminhar livremente pelas lápides, e somente se encontrar depois no ponto marcado pela van dali a uma hora. Com tudo escuro e a luz de velas, foi como se todo o grupo (eram duas vans, totalizando quase trinta pessoas), desaparecessem na escuridão. Mal dava para reconhecê-los a distância, de modo que essa primeira hora foi um passeio meio atento, com um olho no morto e outro no relógio, para não perder a hora nem o ponto de encontro .
Vale dizer: mesmo com toda a experiência de viver um Dia dos Mortos, ser deixada para trás à noite num cemitério não era meu super plano para a noite.
Mas, como ele era o cara mais alto do grupo, fiquei de olho nele – pura e simplesmente para tê-lo como referência. Afinal, se à noite todos os gatos são pardos, pelo menos a gente se guia pelo gato maior.
Ele me ignorou solenemente. Nem aquela solidariedade de “putz, cadê o resto do grupo, você viu?”. Neca.
Ele, na dele. Eu, perdida – mas achando ele um metido.
Mas vale registrar: o passeio foi interessantíssimo. A cada lápide rolava até bebida…
E tinha até noivas andando à caráter por lá. Como assim o cemitério não é para casar? 🙂
Eu, por fim, reencontrei o grupo. E fiz minha oferenda aos mortos, com velinha, chocolate e tudo. Sozinha. Feliz. E sem medo. Porque, como eu disse no outro post, o Dia é dos Mortos, mas é cheio de vida.
O almoço:
Acordo no hostel, depois de chegar tarde da peregrinação dos cemitérios. Tomo café e sento na mesinha do lounge do hostel com o notebook – era manhã e eu precisava trabalhar um pouco.
Poderia-se dizer que foi o destino que quis que ele se sentasse ali na mesma mesa que eu. Mas eu acho que era só mesmo por causa da tomada.
– Oi, Bom dia.
– Bom dia.
– Esse carregador é seu?
– É sim.
– Posso colocar ele nessa tomada de cá para eu poder carregar o meu também?
– Pode claro. Aliás, se quiser pode desplugar. O meu já está com a carga cheia.
– Ah, então tá. Obrigado.
– Não tem de quê.
– Qual seu nome?
– Clarissa.
– Prazer. O meu é Mark.
Pronto – interação feita, voltamos ao nosso mundinho particular do computador por algumas horas, em silêncio. Mas eu já não era mais francesa e ele não era mais metido.
– Você pretende almoçar agora?
– Hummm, não sei. Por que?
– Porque eu estou ficando com fome e estava pensando em ir ao Mercado XX de Novembro. A comida lá é boa, você conhece?
– Não – tinha chegado no dia anterior em Oaxaca, poucas horas antes do tour. Não sabia nem o que tinha do outro lado da rua – Bora lá.
Fome: excelente elemento para quebrar a barreira entre estranhos.
Chegamos no Mercado. Que lembra a proposta do Mercadão de São Paulo, com frutas diferentes e alimentos típicos – só que bem mais cheio e estreito. Neste vídeo aqui, retirado da internet, dá para ter uma idéia de como é passear pelos corredores de lá.
Há vários restaurantes no mercado (muitos deles, aliás, servindo o famoso mole negro, que é a carne ao molho de chocolate). Mas fomos direto para a parte de assados. Que, basicamente, consistia em barracas com carnes e legumes expostos a todos: bastava escolher quantos queria, que os atendentes pegavam (com a mão sem luvas, claro), colocavam numa bandeja (que você nunca viu a procedência) e levavam à grelha.
Eu sentei de costas para a barraca das carnes, de onde pendiam tripas de – sei lá, boi talvez – para secar…
…e onde filés enormes de carne eram empacotados e entregues para viagem, ou seguiam para a grelha a cada pedido (e note que plástico ou invólucro protetor é para os fracos).
Sem esquecer, claro, os petiscos: barracas com montanhas de gafanhotos fritos, os chamados chapolines, vendendo em pequenos baldes para degustação. Crocantes, sabia?
E como a vida é feita de experiências, eu aviso: provei tudo isso. Sobrevivi, e eis-me aqui contando para vocês, sem o menor efeito colateral. 🙂
Mas em relação aos chapolines, eu tive um aprendizado: depois deles, desenvolvi a teoria de que qualquer coisa na vida pode ser degustada, se bem temperada com chilli e limão.
Bom, esse foi o nosso almoço. Servido em pratos de plásticos, papel e tortilhas fresquinhas, para a a gente rechear nossos próprios “wraps” e comer a vontade. Sem talheres. Um desafio bacana para quem não consegue passar incólume no teste de comer um cachorro quente de rua no Brasil sem deixar tudo cair no prato, na mesa, na mão…
E como a refeição demorou, conversamos. E quando ela chegou – e era assim, diferente – conversamos. E como estava boa, repetimos – e conversamos mais uma vez. E os dois descobriram com várias coisas em comum: paixão por viagens viagens, histórias e experiências em outros países, um bom papo, uma tortilha deliciosa e cheiro de fritura de carne no cabelo.
Enfim, foi uma tarde muito boa. Sem pretensões. Sem imaginar nada além. Sem as flores e luz de velas do dia anterior e um wrap todo desmanchando-se na mesa, com guacamole escorrendo por entre os dedos…
A noite:
Naquele mesmo dia, à noite, dispensamos o tour pelo restante dos cemitérios de Oaxaca e resolvemos, eu e o grupo que estava no albergue, desbravar as celebrações do Dia dos Mortos na cidade (e conto como a festa funciona aqui neste post ).
E como a ocasião pedia trajes específicos, assim fomos. Resultado: só tinha gente assim, linda, elegante e sincera. 🙂
Foi, por assim dizer, a nossa primeira noitada juntos. Eu, ele e mais várias cabeças: todas devidamente maquiadas de monstros e caveiras. Eu e ele, inclusive. Quanto mais horripilante, melhor – mesmo com todas as tequilas da noite.
E aí, adivinha o que aconteceu? Adivinha? Adivinhou? 🙂
Nada. No dia seguinte cada um foi para um canto. Ele seguiu viagem para outra cidadezinha no México. Eu fiz as malas de volta para o Brasil.
Mas aí…
Exatamente um dia depois eu já estava no aeroporto da Cidade do México, em frente à área de embarque do meu voo de volta para o Brasil, quando resolvo dar uma paradinha no Starbucks do aeroporto. E resolvo aproveitar o wi-fi para responder alguns e-mails.
E foi entre um gole do machiatto e uma mordida no muffin que eu recebi a mensagem dele. Que, em linhas gerais, foi mais ou menos assim:
“Oi, tudo bem? Acredito que você já deve estar a caminho do Brasil. Espero que tenha feito uma boa viagem…”
– Atenção, passageiros do vôo XYZ com destino ao aeroporto de Guarulhos, Brasil. O embarque está sendo iniciado no portão B – ecoa a voz do aeroporto.
“O motivo do meu contato é que eu gostei de conhecê-la e gostaria de conhecê-la melhor. Então gostaria de saber se…”
– Passageiros das fileiras 16 a 32, favor apresentar seu cartão de embarque e passaporte.
“… você tem planos de viajar para algum outro lugar em breve, onde eu poderia encontrá-la, ou…”
– Passageiros das fileiras 01 a 15, favor apresentar-se imediatamente ao portão de embarque.
“…quem sabe eu poderia adiantar meus planos e ir ao Brasil em breve.”
– Passageiros do voo XYZ com destino ao aeroporto de Guarulhos, Brasil. Favor dirigir-se ao seu portão de embarque imediatamente. Esta é sua última chamada.
E agora?
Moral da história: respondi que sim, que tudo bem, que não tinha problema.
Tipo, “claro, porque não?”. Na minha cabeça, o “eu vou te visitar no Brasil” tem a mesma validade de “bora marcar um chopp semana que vem?” do carioca. Ou seja, se eu acreditasse que ele viria de fato ao Brasil para me ver (sem ter acontecido nada entre a gente), eu estaria esperando ele mais ou menos assim…
E aí foram algumas trocas de e-mails aqui, outras acolá… E ele veio. Chegou ao Rio de Janeiro exatamente 1 mês e meio depois.
Moral da história: cinco meses e meio depois, ele sai do Brasil porque o visto dele vai expirar. E exatamente agora, enquanto vocês estão lendo este post, eu estou em algum lugar entre o aeroporto do Galeão e de Guarulhos, esperando a conexão para meu voo até Londres, para trabalhar e encontrar com ele depois.
O “Até quando?” e o “No que vai dar?“, eu também não sei e nem importa. Acho que a vida, assim como as melhores viagens, acontecem desse jeito: a gente só consegue ver o planejado até certo ponto, e o que acontece a partir dali é surpresa pura.
Mas uma coisa é certa: para onde quer que essa história me leve, eu conto aqui para vocês! 🙂
Moral da história (2): a vovó que inventou a típica frase das vovós de que “essas coisas acontecem quando a gente menos espera” estava mais certa do que eu imaginava. Mas eu divido que ela pensasse num cemitério quando disse isso.
Moral da história (3): Um pequeno “causo” só para ilustrar… Eu e ele fomos para Bonito, no Mato Grosso do sul, há um mês. Lá, conhecemos uma garota americana que estava viajando pelo Brasil. Papo vai, papo vem, menciono que nos conhecemos em Oaxaca.
– Uauuuuuuuuuuu! – ela exclama! – Mentira: vocês se conheceram em Oaxaca??
– Er… é – até me assustei com a empolgação da gringa.
– Ownnnnnnnnnn, eu amo Oaxaca! Sabe, foi lá também que eu conheci meu ex-namorado. Ele era europeu, eu estava passando férias dos EUA… A gente se conheceu lá e, bem… ficamos juntos por uns 2 anos! – ela exclamou, cheia de coraçõezinhos borbulhando pela cabeça…
– Poxa, mas acabou? Que pena! – eu pergunto.
– Pois é, ele teve que voltar para a Europa e eu precisei vir para cá. Mas a gente ainda se fala. Quem sabe mais para a frente… – ela sorri.
Pois é: eu ia dizer que conhecer alguém num cemitério em Oaxaca seria um ponto fora da curva. Mas já ouvi dizer que se um raio cai duas vezes no mesmo lugar – e, no caso, na mesma cidade – pode muito bem cair uma terceira vez, uma quarta…
Ou seja: aparentemente, Oaxaca está bombando de “love vibes”. E você aí, já pensou o que vai fazer o próximo Dia de Finados? 🙂
Até porque, segundo uma frase que escutei sobre o assunto, “é no cemitério que acontecem as coisas eternas”…
Bom, mentira não é… 🙂
Você tem uma história viajante e apaixonante para contar também? Conta para a gente aí nos comentários – ou se preferir, mande para contato@dondeandoporai.com.br! E se tiver foto, melhor ainda: pode virar mais um post da nossa série Travel Love Stories!
E fique de olho: amanhã, véspera de Dia de Namorados, tem mais “amor viajante” aqui para vocês!
Porque – esta sou eu já entrando na vibe londrina – “love is all we need”… 🙂
Ai que lindooooo! <3
Esse post parece até filme romântico. Adorei!
Boa viagem e muito amor para o casal!
Bjos,
Lillian.
Não é??? Obrigada, Lilian!!! 🙂 Muito amor e viagens para nós todas!
Clarissa,
Que história maravilhoosaaaa!! Eu já tinha adorado os posts do Dia dos Finados, agora amei (só para manter a mesma vibe)! rs rs
Boa sorte para você na nova fase em Londres, e muita felicidade e amor para vocês!
Beijão,
Nath
Obrigada, Nath! Pois é, eu mantive essa história quietinha até agora, exatamente para ver onde ia dar… Mas de fato foi o mais diferente que já aconteceu!
Obrigada, e muito amor para nós todas!!! Que a gente merece! 🙂
Clarissa,
Que romântico (e que divertido)! Histórias que começam com viagens, normalmente são cheias de viagens…
Eu encontrei meu namorado (marido) em Amsterdam. Nos conhecíamos desde crianças, mas só retomamos contato quando ele estava morando na Holanda. Então eu decidi ir e ele me pediu em namoro durante um passeio de barquinho (a remo) nos canais. Deu tão certo que estamos casados!
Olha, Lucila, que história fofa, hein? Travel Love Story mesmo! Acho que viagem dá um certo “clima” que dá um empurraozinho na gente parafazer acontecer essas histórias, né! Obrigada por contar aqui! 🙂
Legal Clarissa, realmente um lugar incomum para conhecer um amor! Felicidades a vcs, e vida longa a esse love! Bjos
Obrigada, Kellen! 🙂
Muito amor pra vocês, querida!
Beijos. 😉
Obrigada, Marcie!:)
Adorei a história!! E é sempre assim, inesperado mesmo. No dia que você se arruma e procura, nada acontece… E então, do nada, as coisas acontecem. Estou na torcida!! Beijos e aproveite!
Pois é, Roomie, quando a gente fica pilhada e crente que vai render alguma coisa, nada… e quando a gente menos espera… vamos ver onde isso vai, né? Obrigada pela mensagem!!!
Que história linda Cla!!!!
Você já havia me contado, mas assim com os diálogos e detalhes, ficou muito mais legal!
Muito amor e viagens para vocês! Tenho certeza de que vocês vão conseguir conciliar essa vida Londres – Rio.=)
Beijão!!!
Que história linda, eu também conheci durante uma viagem uma pessoa especial… ainda não sei no que vai ser, e isso que é gostoso, a vida é assim: imprevisível.
Thaís, obrigada pelo seu comentário e visita aqui no Blog. E tomara que a sua história passe por caminhos bonitos, independente de onde eles levem – acho que o bom das viagens é isso, as coisas acontecem de forma tão curiosa, né?