Dia desses, aqui em Londres, um turista ficou preso na livraria Waterstones, que é uma das maiores redes da Inglaterra. Ele foi “esquecido” lá dentro, depois da loja fechar, e tuitou pedindo ajuda – levou duas horas para alguém ir lá tirar ele do sufoco.
Aliás, sufoco em tese: ele realizou o sonho de muita gente, que é o de ficar preso por uma noite numa livraria enorme, e com todo o tempo do mundo para ler quantos livros quisesse! Deu tanto bafafá de gente que invejava a sorte do menino que a própria Waterstones resolver aproveitar a onda e propôs um concurso que daria ao vencedor a chance de “ficar preso” por uma noite em uma de suas maiores lojas!
A própria loja, claro, pediu mil desculpas pelo incidente: mas admitiu que uma livraria não é o pior lugar para ficar preso.
Eu, concordo absolutamente. Mas se eu tivesse que escolher, eu queria ficar presa na Foyles.

A quem, como eu, é louco por livrarias, fica um aviso: a Foyles é um sonho, e é parada obrigatória para você quando estiver na Inglaterra.
Um aviso: para alguns amigos que esperavam uma Livraria Cultura da Avenida Paulista, por exemplo, cheia daqueles parangolés visuais que já enchem os olhos, com puffs disputados para a gente se esparramar na leitura… bem, a Foyles é bem diferente.
Não, a Foyles é bem mais inglesa: clean, discreta, diferente das livrarias charmosinhas que também estão espalhadas por toda Londres. Mas como já se sabe que não se julga um livro pela capa, o que faz você cair de amores pela Foyles é o seu conteúdo: um acervo enorme, espalhado por 4 andares quase monstros de tão grandes, para você se perder.
Aliás, fica um aviso: tem várias “pequenas” Foyles espalhadas pela cidade, como em Southbank e na estação de trem de Waterloo. Mas para você ter a experiência de verdade, experimente ir na loja principal deles, que fica Charing Cross (endereço: 107 Charing Cross Road, atrás da estação de metrô Tottenham Court).
O passeio é imperdível para apaixonados por livros de moda, arte, fotografia, cinema, entre outros. OS livros são separados por áreas de especialidade, e dentro de um mesmo assunto você pode encontrar diversas versões, autores, edições, correntes…
Por exemplo: uma das partes que mais me encantou foi a de História (essa mesma, com H maíusculo), e em especial no que tange à guerra (qualquer uma delas, já que guerra foi algo que a Europa viveu bastante ao longo da história). No segundo andar fica a parte de História Militar, e só nesse setor é possível ver os mini-universos coabitam em suas prateleiras: História Militar na I Guerra mundial, na II Guerra Mundial, no pré-Guerra, no entre-Guerras, no pós-Guerra, na Guerra Naval, na História Aeronáutica… e sem falar nos mil livros de história, estratégia e biografia das Guerras dos Cem Anos, das Guerras africanas, asiáticas, no mundo antigo… Um sonho para quem curte esse universo!
Já na parte de história – essa, com “h” minúsculo mesmo – é uma delícia! E começa pela própria livraria, que começou em 1903. Uma das histórias que rolam pelos seus corredores é de que, nos anos 30, quando Hitler começou a queimar livros na Alemanha nazista, um dos fundadores mandou um telegrama diretamente ao líder bigodudo perguntando se, ao invés de queimar, ele poderia comprar os livros; e ainda ofereceu um ótimo preço. A resposta veio quase que imediatamente: não, a Alemanha nazista não tinha livros disponíveis para a venda e que a queimação toda iria continuar. Anos depois, quando a guerra começou e os bombardeios em Londres também, o mesmo fundador anunciou que estava colocando livros velhos de Mein Kampf (livro escrito por Hitler) no teto da livraria, para protegê-la de futuras bombas.
Curiosidades à parte, a casa tem desde hoje esse amor todo por livros, de todos os tipos, de todos os jeitos, e que se reflete pelas suas prateleiras, cheinhas de livros de crônicas, ficção, não-ficção, biografias… Amei especialmente a parte dedicada aos livros clássicos de capa-dura (naquela vibe “fico lindo na prateleira da sua casa”)…
… aos livros de quadrinhos, ficção científica e fotografia. O máximo!
Foi ali que eu achei, por exemplo, um livro sobre a vida de Vincent Van Gogh toda contada em quadrinhos (e que eu só tinha visto, uma única vez, na livraria do museu de Van Gogh em Amsterdam). E que hoje tá lindo aqui na minha casa!
Aliás, em se falando de edições: o que não falta na Foyles é encontrar o seu livro disposto em várias edições e formas diferentes.
Vale conferir também o primeiro andar: está ali a parte infantil (com aqueles livros de crianças que fazem todo adulto morrer de amores) bem como os livros de viagem, uma sessão deliciosa para gente como a gente que adora se perder no mundo!
Eu, particularmente, curti a forma como estes livros de viagem estão organizados: ao invés de ocuparem apenas umas discretas prateleiras, eles estão separados em guias, travel writing e outros interesses – como, por exemplo, livros de viagem e gastronomia (com capas de encher os olhos!).
Em tempo: a maioria dos títulos são em inglês, claro. Há no terceiro andar, porém, a seção reservada à literatura estrangeira, com livros em alemão, francês, italiano, espanhol e por aí vai. Infelizmente, a ala dedicada à Literatura em Português ocupa 3 módicas estantes, em comparação com o restante da livraria -mas estão lá presentes nomes como Clarice Lispector, Jorge Amado, e nomes como o moçambicano Mia Couto e os portugueses Fernando Pessoa e valter hugo mãe (escrito com a letra minúscula mesmo, do jeito que o próprio autor escreve).
Particularmente, acho que não vale a pena comprar livros em português na Foyles – ou na Inglaterra como um todo. A variedade de livros no idioma é pequena (embora de excelente qualidade) mas bem cara: um livro de Clarice Lispector custava umas 20 libras (quase 80 reais) e um de Jorge Amado já estava na faixa de 30 rainhas, em comparação com os preços brasileiros. Claro, há todo um custo de logística e importação disso, mas para nós brazucas, é melhor ir na Foyles aproveitar tudo o que a livraria tem de bom para oferecer em inglês, e deixar para comprar os livros em português no Brasil ou na internet.
Outra dica: Confira a seção de “stationery” deles, com bolsas de livros charmosíssimas e coloridas (eu tentei tirar foto mas levei uma chamada do tiozinho! 🙁 ), cartões, jogos, papéis de presente de sonho e outros badulaques lúdicos desses que tem em livrarias charmosas e que a gente ama! Ah, e dê um pulo nas prateleiras de “Staff Choice”: livros recomendados pela equipe da Foyles, que lê e enumera ali os seus preferidos da temporada. Eu ia amar trabalhar num lugar em que parte das minhas obrigações seria ler o que rola de bom por aí e dar minhas indicações depois! 🙂
Chegando na Foyles
Tem várias lojas da Foyles espalhadas por toda a Inglaterra, e só em Londres há umas lojas menores em lugares de grande circulação, como o Southbank e a estação de trem de Waterloo. Qualquer uma dessas é uma delícia também, mas a “Foyles sensação” mesmo fica na unidade de Charing Cross, número 107 da Charing Cross Road, atrás da estação de Tottenham Court.
Só tem uma pegadinha: se você jogar este endereço no Google Street View, a imagem que eles tem registrada lá é a da loja antiga, que ocupou esse lugar por décadas e que hoje é uma loja que vende souvenirs. A Foyles nova e poderosa ocupa o prédio do lado (e que na foto do Google Street View dali de cima é a que está sob construção). 🙂
Só que a loja antiga da Foyles, essa da foto, não tirou os banners e adesivos da livraria até hoje – então o que acontece é que, não raro, você vem andando pela rua, reconhece os adesivos e já entra na loja todo pimpão, para então levar alguns segundos até rolar o “ué… mas isso não parece uma livraria!”. 😉
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Ainda não tinha visitado a FOYLES. Irei visitar em breve, obrigado pela dica. Abs