Então: pra mim Spoleto sempre foi sinônimo de fast-food.
Mais do “fast” do que do “food”, porque tai um lugar que me dá uma agonia danada. Ficar na frente do vidro em frente aos “toppings” enquanto o rapaz do outro lado está de frigideira e óleo na mão, me perguntando peremptório “Qual o tempero? E depois? E depois?” já me faz me sentir culpada só por ter demorado 0,056 segundos para decidir que eu queria ervilha no molho sugo.
Resultado: da ervilha, só ganhei 4 bolinhas, mas já chego no caixa cansada da maratona mental de ter passado a fila toda pensando na lista de todos os temperos na cabeça – e decorado, que é para falar bem rápido.
Ou seja, nada contra a rede brasileira, que tem os seus méritos. Mas o fato é que o conceito do “fast” destruiu o “food”. O que é um pecado mortal quando se trata de comida italiana.
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E foi numa dessas coincidências da vida que eu fui parar na Spoleto original, que fica na região da Umbria, Itália, pertinho de Assis.
Como todas as cidades medievais da Itália, Spoleto é cheia de muros que protegem o centro histórico. E é devagar e deliciosa, para se conhecer degustando – completamente diferente da Spoleto brasileira.
Duas coisas aprendi rápido sobre a cidade: e a primeira é que Spoleto foi (e ainda é) um importante pólo de estudo para as artes. Estão ali várias escolas de danças, teatro, música e artes plásticas, e já há tempos artistas e estudantes de todo o mundo vem estudar e treinar para suas performances aqui.
E não é que, curiosamente, uma das definições da palavra “espoleta” em português quer dizer “arteiro”, ou “aquele que vive fazendo arte”?
O resultado disso? A cidade tem um quê de cor e irreverência em tudo quanto é canto. Uma delícia.
A segunda é que, por ficar no alto de uma montanha e em uma posição relativamente privilegiada, do alto de Spoleto é possível ver os contornos de outras cidades da Úmbria, como Perugia e Assis. Todas fofíssimas, aliás, e a apenas alguns minutos de carro.
Ah, e só porque já em perguntaram e eu resolvi atualizar no post: quem pensa em alugar carro na Itália pode pesquisar neste link algumas ofertas (vale ficar de olho, porque os preços são interessantes e em alguns casos rola um desconto para quem fechar pela internet!)
E é de lá também que se visita um dos vários imponentes aquedutos romanos, ligando uma montanha e outra – e com um caminho lindo de morrer para se andar! 🙂
Aliás, fica a dica: aqui nesta cidade está algum dos caminhos por onde São Francisco de Assis andou em suas peregrinações – e um deles é este mesmo aqueduto, fazendo o mesmo percurso desta foto. Para quem gosta de caminhadas e meditações, eis um lugar!
Mas esse post é curtinho, porque curtinha também foi a minha visita… Um pouco mais de uma tarde, infelizmente. Mas foi na hora certa: porque quando estávamos lá, acontecia o Festival de Dois Mundos, que toma conta de Spoleto todo ano em junho e julho, e envolve diversas apresentações de músicas clássicas e teatro, com artistas de todo mundo. Se a cidade já inspirava arte pelas suas vielas e corredores, ficava mais do que deliciosa ao ouvir música ecoando pelas portas!
Mas aí, você pensou: “Festival dos Dois Mundos? Nunca ouvi falar!”
Pois é, nem eu. Mas o pouco que conheci, deu para ver que não era pouca coisa. Tanto que até existe uma versão americana do festival que acontece todos os anos em Charleston, Estados Unidos. A cidade explode em arte: tem peças de Shakeaspeare, cinema, teatro italiano, ópera…
Confesso, porém, que bateu uma dúvida se as pessoas que vem do Brasil iriam curtir esse festival. Muitos dos nomes no programa eram desconhecidos para mim e as peças aconteciam na sua maioria em italiano, língua que muita gente não domina.
Eu, por exemplo, só falo “vino bianco” e “Vino rosso”. Geralmente é tudo o que eu preciso na maioria das vezes! :p
Mas a dúvida foi afastada, e da melhor forma: fomos assistir a uma apresentação de música clássica, lindíssima. E ao ar livre, na noite fresca e perfumada do verão italiano… Absolutamente apaixonante. 🙂
Ah, a maioria dos espetáculos acontece assim, ao ar livre. Aliás, o que adiciona muito mais charme à música: eu não consegui fotografar, mas ao fundo do palco víamos o relevo iluminado de uma parte das construções de Spoleto, que se exibiam amareladas e imponentes na noite!
Pois é, uma pena. 🙁 Mas para me redimir, eu gravei esse vídeo da apresentação. Que vai para vocês assim mesmo, na íntegra (porque eu tô temporariamente com limitações para editar). 😉
O Festival compreende apresentações como essa em diversos espaços da cidade, e entre eles, na praça principal de Spoleto, em frente ao Duomo da cidade (a Igreja de Santa Maria Assunta).
Aliás, independente do festival, essa igreja merece a visita. De preferência, com guia, porque a arquitetura dela é de uma lindeza só, com referência de vários séculos (coisa fácil de se esperar de uma Igreja na Itália).
Mas o motivo maior, na minha humilde opinião, é essa relíquia aí embaixo: escrita em italiano antigo e protegida por uma urna, é o único manuscrito original redigido por São Francisco de Assis – o próprio – para o Frei Leão, um de seus seguidores.
E como se música, arte e história não fossem suficiente… Spoleto tem umas lojinhas de roupas bem bacaninhas – e com bons preços!
E fica bem perto de Norcia, cidadezinha fofa considerada a capital das trufas negras e do presunto cru. Lá dá para fazer a famosa (e deliciosa) “caça às trufas” – contamos como é aqui.
Tá vendo? Acho que eu vou mandar uma carta lá para o pessoal da franquia fast-food no Brasil. Degustar qualquer coisa que lembre Spoleto com pressa não tem nada a ver… 😉
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Esta blogueira que vos fala foi à região da Umbria, na Itália, convidada pelo Ministério do Turismo, integrando a delegação brasileira que fez parte do projeto Brasil Próximo, de colaboração entre Brasil e Itália. O objetivo foi conhecer melhor os atrativos turísticos da região, mas todas as opiniões, comentários e sugestões aqui descritas são genuínas, e representam a opinião da própria autora.
Delícia de cidade e de texto, Clá 🙂
Oi, Donda. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie – Boia